Seminário discute inserção profissional da Psicologia na Educação

Durante o primeiro dia do 2º Seminário Nacional de Psicologia na Educação – “Psicologia Escolar: que fazer é esse?”, três grandes mesas-redondas refletiram sobre a inserção profissional das (os) psicólogas (os) no campo da Educação. Questões relacionadas à inclusão nas escolas, formação na área educacional e políticas públicas nortearam o debate entre os cerca de 200 participantes reunidos em Campinas (SP).

O evento, que é organizado pela Comissão de Psicologia na Educação (PsinaEd) do Conselho Federal de Psicologia (CFP), com apoio da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), segue hoje com rodas de conversa e apresentação de pôsteres. Confira a programação.

“O papel do psicólogo escolar é ser proativo no combate à exclusão dentro da escola”, defendeu a primeira palestrante da mesa “Psicologia na Educação: Exercício Profissional”, na manhã de ontem (12). A doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB) Celeste Azulay Kelman explicou que o conceito de inclusão se transformou desde a Declaração de Salamanca (1994), abrangendo hoje questões relacionadas à orientação sexual e à prática de bullying nas escolas. Para ela, a (o) psicóloga (o) deve atuar não apenas com a criança, mas também com os gestores, professores e com a comunidade escolar nesse combate.

O professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Leonardo Lemos de Souza aprofundou a discussão a partir do tema do gênero e da sexualidade nas escolas. O doutor em Psicologia pela Unicamp avalia que há, hoje, um movimento de resistência à introdução de “outras epistêmes” que pensem o respeito à diversidade. A falácia da “ideologia de gênero” nas escolas e o projeto “Escola sem Partido” foram exemplos citados por ele. “Os estudos de gênero, na concepção feminista, rompem com o modo como a gente entende a ciência. Isso não chega na escola e a Psicologia tem uma dificuldade de levar o debate até ela”, constatou.

Ainda sobre o tema da exclusão nas escolas, a psicóloga Maria Aparecida Silva Bento falou sobre os motivos pelos quais as crianças negras têm o pior desempenho e os maiores índices de evasão escolar, de acordo com vários estudos. “Não é só a questão econômica – e ela é fundamental”, explicou. “Mas é também o fato de a escola não dialogar com a cultura dessas crianças. Elas abrem os livros e só tem história dos brancos, corpos brancos, a criança não se identifica, fica um buraco”.  Atualmente, Maria Aparecida é diretora executiva do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades.

A psicóloga e analista de políticas públicas da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte Carla Andréa Ribeiro falou sobre a inclusão pelo serviço de assistência social, ainda durante a primeira mesa redonda.  Representante da Comissão de Psicologia na Assistência Social do Conselho Federal de Psicologia (Conpas/CFP), ela considera importante o trabalho intersetorial de assistência social com a escola e com a família, na tentativa de garantir a cobertura da educação e de romper com o ciclo de pobreza geracional. Ribeiro relatou a experiência do programa Bolsa Família e sua relação com a educação.

Formação da psicóloga (o)

A segunda mesa, intitulada “Psicologia na Educação e Formação Profissional” posicionou a educação dentro da formação do profissional da Psicologia. O professor da Universidade Federal da Bahia Antonio Virgílio Bittencourt Bastos constatou, por meio de levantamento de dados, que existem 22 linhas de pesquisa nos programas de pós-graduação da Psicologia relacionadas ao tema da educação. No entanto, isso não se reflete na prática profissional. De acordo com dados apresentados pelo professor, em 1988, a área educacional absorvia 16,5% dos profissionais da Psicologia. Vinte anos depois, esse índice caiu para 9% e boa parte da atividade está limitada ao diagnóstico e acompanhamento de alunos com baixo desempenho escolar.

Para Diva Conde, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apesar da Psicologia ter sido parte da educação básica desde o século XIX, essa é uma temática que não atravessa a formação dos psicólogos.

Na opinião da professora, uma das formas de estreitar os laços entre a Psicologia e a educação é a docência da disciplina para jovens brasileiros. “Qualquer que seja o seu futuro, se eles tiverem uma boa formação no ensino médio, com filosofia, sociologia e uma das principais ciências humanas que é a psicologia – ao lado da física, química, etc – eles certamente terão uma vida um pouco melhor”, argumentou.

Claisy Maria Marinho Araujo, pesquisadora da UnB, acredita que existem muitas ações de psicólogos escolares que vão além do diagnóstico e da avaliação do desempenho escolar, mas tem pouca visibilidade. Nesse sentido, “as ações políticas do PsinaEd e do CFP, como a realização deste seminário, estão propondo alternativas”, destacou. A psicóloga apresentou alguns resultados de uma pesquisa que busca traçar o perfil da (o) psicóloga (o) escolar no país. Dentre os indicadores estão a “iniciativa e autonomia frente a conflito ou decisões; utilização de estratégias interdisciplinares e integradas de comunicação e ação; e postura crítica, lúcida e reflexiva em relação ao contexto social”.

Políticas públicas

Na última mesa-redonda do dia, “Políticas de Inserção da Psicologia no campo educacional”, Alba Cristiane Santana da Mata, professora e conselheira suplente do Conselho Regional de Psicologia – 9ª região, afirmou que as políticas podem marcar as possibilidades da atuação do psicólogo e, por isso, “precisamos acompanhar e vigiar o que os legisladores estão fazendo”. Atualmente, ela coordena uma pesquisa que busca justamente mapear as políticas que promovem algum tipo de interação entre a Psicologia e a Educação no Estado de Goiás.

Para a profissional Ariadyne Barros Luz, também é importante que a psicóloga (o) atue nos espaços de construção dessas políticas. “Precisamos nos perceber enquanto psicólogos dentro de uma política nacional que está se construindo e dentro dos espaços que existem”, afirmou. Luz, que coordena o Grupo de Trabalho sobre Psicologia e Políticas Públicas de Educação da Fenapsi e é diretora adjunta do Sindicato dos Psicólogos do Estado do Ceará (Psindce),citou a Conferência Nacional de Educação (Conae) e o Fórum Nacional de Educação (FNE) como exemplos de possíveis espaços de atuação.

A última mesa contou ainda com a participação da presidente da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee), Silvia Maria Cintra da Silva, que apresentou um histórico da instituição e sua relação com as instâncias políticas governamentais.

Educação para a emancipação

A conferência de abertura do seminário ficou a cargo do professor de filosofia da Universidade Federal de Alagoas, Ivo Tonet, que levantou questões acerca da emancipação da educação. Para o filósofo, o atual modelo de educação – a serviço de interesses privados e gerido pelo Estado – tem tido um papel conservador. “Este modelo tem o objetivo de formar força de trabalho para ser vendida no mercado”, constatou. “o outro papel dele é formar cidadãos, pessoas que aceitem viver nessa sociedade, que façam críticas a ela, mas que não queiram transformá-la radicalmente”, completou.

O professor defende que os educadores promovam “atividades educativas” que vão contra esse modelo de educação e de sociedade.  “Não se trata de doutrinação, mas de compreender a história da humanidade e a lógica de funcionamento da sociedade e, a partir disso, ter a possibilidade de construir uma outra forma de sociabilidade humana”, concluiu.

(Fonte: CFP)

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