O CRP09 Entrevista conversou com a Psicóloga Jacqueline Amaral, Mestra em Psicologia (UFG), Especialista em Cuidados Paliativos (FCMMG), membra do Comitê de Psicologia da Academia Nacional de Cuidados Paliativos(ANCP). Ela também é membra da Comissão Especial de Psicologia e Cuidados Paliativos do CRP09, recentemente criada para promover estudos que ajudem na disseminação do conhecimento científico e tecnológico sobre Cuidados Paliativos (CP) em Goiás alinhados com a Política Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP) instituída pela Portaria GM/MS Nº 3.681, de 7 de maio de 2024. Além disso, a Comissão busca fortalecer a Psicologia Paliativa por meio de pesquisas sobre o papel da(o) Psicóloga(o) nesse contexto.
Confira a reportagem:
1 – O CRP09 acaba de criar a Comissão Especial de Psicologia e Cuidados Paliativos. Qual a importância dessa nova Comissão para a área de Cuidados Paliativos?
A Comissão Especial de Psicologia e Cuidados Paliativos tem o objetivo de promover estudos que ajudem na disseminação do conhecimento científico e tecnológico sobre Cuidados Paliativos, alinhados com a Política Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP). Além disso, a comissão busca fortalecer a Psicologia Paliativa por meio de pesquisas sobre o papel da(o) psicóloga(o) nesse contexto. A PNCP lançada em maio de 2024 anunciou uma equipe inicial para atuação no âmbito do SUS e a Psicologia compõe essa equipe juntamente com a Medicina, a Enfermagem e a Assistência Social. Dessa forma, para a atuação ética e responsável, a(o) profissional deverá estar atenta(o) às resoluções do Sistema Conselhos de Psicologia e às especificidades da atuação na área dos CP.
2 – Para as(os) profissionais da área de Psicologia que ainda não tem contato com essa área, o que são os Cuidados Paliativos?
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em conceito definido em 1990 e atualizado em 2002, definiu que “os Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente (adultos e crianças) e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais”
Importante ressaltar que os Cuidados Paliativos não são exclusivos para pacientes em final de vida, mas representam uma abordagem integral que visa promover a melhoria da qualidade de vida de pacientes e suas famílias diante de doenças graves (com ou sem possibilidade de cura) que comprometem a continuidade da vida. Em outras palavras, há sempre intervenções possíveis e significativas a serem realizadas. Para isso, é fundamental realizar uma avaliação cuidadosa e um controle impecável não apenas da dor, mas de todos os sintomas, abrangendo as dimensões físicas, sociais, emocionais e espirituais do paciente. As questões bioéticas são amplamente respeitadas, priorizando a autonomia do paciente, respeitando sua capacidade de decisão.
3 – Qual principal barreira encontrada por profissionais da Psicologia para lidar com o luto?
Os CP contemplam uma abordagem complementar aos cuidados curativos, devendo ter seu início desde o diagnóstico de doença que ameace a vida (com ou sem possibilidade de cura). À medida que a doença avança, esses cuidados tornam-se exclusivos. O objetivo dos Cuidados Paliativos precoces é a avaliação e o manejo da dor total (físico, mental, social e espiritual) para a promoção da qualidade de vida de todos os envolvidos no processo de adoecimento. Quando ocorre o declínio irreversível do estado geral do paciente, inicia-se a fase dos CP exclusivos. Nessa etapa, o foco principal é proporcionar cuidados ao fim de vida, promovendo conforto, controle dos sintomas e apoio aos familiares. O luto é abordado desde o diagnóstico, momento que o mundo presumido da unidade de cuidados (paciente e família) deve ser ressignificado.
A comunicação empática, sensível e qualificada, é um pilar importante, pois é o paciente e seus familiares que irão abordar o que é sofrimento para eles e isso deve ser respeitado para que os CP sejam planejados pela equipe multiprofissional, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de todos os envolvidos – paciente, familiar, cuidadores e equipe. O luto como uma das etapas a serem abordadas nos Cuidados Paliativos requer uma prática ética, especializada, estudos e atualizações. É um campo de atuação dentro dos CP que o olhar profissional é voltado desde o diagnóstico da doença ameaçadora da vida. O profissional com esse olhar cuidadoso e especializado oferecerá atendimento de forma a auxiliar a unidade de cuidados na ressignificação e integração dos lutos decorrentes do processo de adoecimento. Devemos também cuidar do luto dos profissionais de saúde.
4 – Qual a importância do acompanhamento psicológico das famílias com pacientes em estado grave de saúde por profissionais especialistas em Cuidados Paliativos?
Embora a doença afete diretamente o paciente, seu diagnóstico também impacta a família, cuidadores e profissionais. O avanço da doença pode provocar mudanças significativas na dinâmica familiar, devido à alteração de papéis e à modificação da rotina diária. Nesse contexto, os cuidados paliativos desempenham um papel fundamental, oferecendo suporte ao paciente e à sua família para lidar com questões físicas, psicológicas, sociais, espirituais e práticas, atendendo às suas expectativas e necessidades de forma integral.
5 – O que faz a (o) Psicóloga (o) na equipe de Cuidados Paliativos?
Os CP são feitos em equipe multiprofissional e interdisciplinar pois abordamos a multidimensionalidade humana. Cada membro da equipe desempenha um papel distinto nos cuidados, mas, juntos, garantem um atendimento integral às necessidades dos indivíduos. O trabalho de uma equipe interprofissional é essencial para que todos os aspectos físicos, psicossociais e espirituais dos pacientes e de suas famílias sejam devidamente cuidados. O Comitê de Psicologia da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) lançou em 2022, o Guia de Recomendações de competências, habilidades e atitudes do psicólogo(a) em Cuidados Paliativos que está divulgado no site do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e de outras entidades que participaram da execução do guia.
O Guia está disponível no link abaixo:
GUIA PARA PSICÓLOGAS(OS) PALIATIVISTAS
Assessoria de Comunicação do CRP09