O psicólogo Óttoni Rodrigues Oliveira, cuja atuação profissional está voltada para a área de gestão de pessoas e sistemas de Recursos Humanos, representou o CRP09 em um evento realizado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) em Brasília, em comemoração aos cinco anos da Resolução CFP nº 01 de 2018. Esta Resolução estabelece normas de atuação para as psicólogas e os psicólogos em relação às pessoas transexuais e travestis.
O encontro promovido pelo CFP foi planejado com o intuito de dar protagonismo às (aos) profissionais trans e travestis que integram ou possuem algum tipo de atuação dentro dos plenários regionais. A indicação de Óttoni como representante do CRP09 foi definida durante uma reunião aberta organizada pela Comissão de Direitos Humanos.
O evento, que remete ao Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado anualmente em 29 de janeiro, contou com o lançamento do Prêmio João W. Nery “Práticas de Promoção de Cuidado, Respeito e Dignidade das Pessoas Trans”, além de uma roda de conversa sobre a história, pontos estratégicos e desafios da resolução lançada em 2018 pelo CFP.
“A Resolução é resultado de um caminho de evolução, que se inicia quando a transexualidade e a travestilidade saem do campo de patologia. Devemos compreender a Psicologia como uma ciência de grande contribuição para o desenvolvimento humano, e profissionais da Psicologia podem ajudar as pessoas trans e travestis a se reestruturarem emocionalmente e a adquirir outras perspectivas e percepções diante de si mesmas e do mundo. Tudo isso leva a pessoa a traçar estratégias mais assertivas de enfrentamento às adversidades, o que contribui para alcançar uma qualidade de vida melhor. Dito tudo isso, nós compreendemos que a realidade de atuação profissional é de que ainda há psicólogas(os) com práticas e manejos que não condizem com a ética da profissão e com o que a ciência apresenta. Por isso, a Resolução se faz tão necessária, como forma de reforçar e garantir que a conduta profissional não pode ser divergente do que está previsto em nosso Código de Ética”, salienta Óttoni.
Além de pessoas trans que integram e colaboram com as gestões de Conselhos de Psicologia de todo o país – incluindo a primeira psicóloga travesti a presidir um Conselho profissional, Céu Cavalcanti -, o evento do CFP contou com a participação de Symmy Larrat (secretária nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania); Keila Simpson (Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA), e Jaqueline Gomes de Jesus (Associação Brasileira de Estudos da Trans-Homocultura – ABETH).
“Acredito que o CFP foi extremamente sábio e cirúrgico ao envolver pessoas trans nesse processo, pois não há sentido em eventos e ações relacionadas a pessoas trans sem pessoas diversas. Algumas pessoas até questionam: "Mas existem psicólogas(os) trans?". Existem. Podemos estar em menor número, mas existimos. É muito simbólico chegar em um ambiente e encontrar rostos conhecidos, com histórias que nos conectam, e notar o aspecto de renovação das forças e do entendimento de que a Psicologia está a serviço da saúde e deve acompanhar a conduta do profissional diante dessa demanda. É doído ouvir que há colegas que ainda cometem infrações relacionadas ao Código de Ética. Por isso, é fundamental que o CFP e os CRPs possam intervir neste tipo de atuação. É importante que, antes que a(o) psicóloga(o) termine a graduação, tenha contato com disciplinas que abordem este tema e que podem apresentar a essas(es) futuras(os) profissionais as diretrizes que devem ser tomadas”, avalia Óttoni.
A discussão em torno da Resolução CFP nº 01 de 2018 e da conduta profissional se torna ainda mais urgente diante de dados que colocam o Brasil, reiteradas vezes, no topo do ranking de países com a maior quantidade de mortes e crimes de ódio contra pessoas trans e travestis. De acordo com dados da Transgender Europe (TGEU), que monitora dados globalmente levantados por instituições trans e LGBTQIA+, o Brasil ocupa esta triste liderança global há 14 anos, sendo responsável por 33% de todos os assassinatos registrados no continente americano, à frente de países como México e Estados Unidos.
“É muito triste pensar que o Brasil, pelo 14º ano consecutivo, é o país que mais mata trans e travestis no mundo. O Brasil é também o país com o maior número de psicólogas(os) em atividade do mundo. Então, nós somos uma potência e temos possibilidade de articular com outras frentes para alcançar mais pessoas e desenvolver ações concretas contra a transfobia. É importante que haja envolvimento e compromisso de toda a categoria, do CFP, dos CRPs, das(os) profissionais. As articulações entre profissionais que tenham contato com equipes multidisciplinares neste processo são necessárias e têm sido muito eficazes”, destaca o psicólogo goiano trans masculino e preto.
A íntegra da Resolução CFP nº 01 de 2018 está disponível para consulta neste link!