O Psicólogo Óttoni Rodrigues, membro da Comissão Permanente de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia da 9ª Região – Goiás (CRP09), participou da 28ª edição da Parada do Orgulho LGBT+, em São Paulo, realizada no dia 2 de junho, com o tema “Basta De Negligência E Retrocesso No Legislativo: vote consciente por direito da população LGBT+”. Em entrevista ao CRP09, Óttoni destacou a importância do evento para combater o preconceito e apoiar representantes que promovam políticas públicas afirmativas e defendam a inclusão e a equidade. Confira na íntegra a entrevista a seguir:
Qual é a importância da 28ª Parada do Orgulho LGBT+ realizada em São Paulo para profissionais da área da Psicologia ?
A Psicologia desempenha um papel fundamental na desconstrução dos estereótipos e preconceitos em que sofrem os corpos e as identidades divergentes. E estar na 28ª Parada LGBT+ é também uma comemoração aos 25 anos da Resolução 199 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) que formalizou o entendimento despatologizante das identidades homossexuais. Pensar nessa resolução, que também abriu gancho para outras resoluções, outras orientações técnicas para atuação do(a) Psicólogo(a), como por exemplo a Resolução 1 de 2018, que despatologiza as identidades trans, reforçando que não há cura para quem não está doente. E que a Psicologia é uma ciência que se mantém forte aliada na luta e causa da comunidade LGBT+.
2 - Qual foi o destaque desta edição do evento e como avalia a 28ª Parada do Orgulho LGBT+ como um movimento de inclusão e diversidade?
O evento trouxe uma programação mais extensa, de quatro dias, tendo as marchas e a 28ª Parada como uma das programações para os CRP’s e CFP, organizada pelo CRP-SP, que super nos acolheu. Foram momentos de grandes trocas, construção de ações que a categoria precisará continuar a desenvolver e construir, mas que ali nessas reuniões conseguimos ter representados vários CRP’s de várias regiões do Brasil, trazendo suas realidades locais e desenvolvendo planos de ações para a atuação da Psicologia em todo o país. E a Parada não é somente uma farra ou uma festa, como sempre é vista e taxada como uma bagunça, apesar de ter muita energia, muita música, a Parada não é isso. Ela é um ato político, um ato de existência e resistência. É uma forma de reafirmar a luta de uma população que tenta assegurar seus direitos básicos, direitos estes que lhe são negados dia após dia.
3 – Qual foi o tema desta edição do evento e como ele se relaciona com a atuação das Psicólogas e Psicólogos?
O tema da 28ª Parada foi “Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo, Vote Consciente por Direito da População LGBT”. É um tema pontual e, digamos, cirúrgico que tem a intenção de desassociar a configuração do verde e amarelo enquanto uma propriedade partidária, trazendo a ideia enquanto movimento e sociedade. A bandeira e o Brasil, são de todos (as) e o Legislativo precisa estar a serviço de todos, é preciso compreender isso, relembrar a sociedade brasileira de que o Brasil precisa estar a serviço de todos(as). Não é somente a cor verde e amarela, é a cor de nossa bandeira que não deve ser também segregada. É de todos(as) nós, pertence a todos(as) nós. Então, foi um grito, na busca por desassociar essa configuração que infelizmente tem sido demarcada em relação a algumas questões partidárias.
4 – A comunidade LGBT+ ainda enfrenta muito preconceito e intolerância? Quais são desafios que precisam ser superados para alcançar mais respeito com essa comunidade por parte da sociedade?
A comunidade LGBT+ enfrenta preconceito e discriminação há muito tempo. É uma história marcada por grande resistência, porém a intolerância e a violência contra esses corpos e identidades vem sendo amplamente intensificados com um pseudopatriotismo que por sua vez é fomentado por uma extrema direita e que nada mais visa do que pregar uma dicotomia de exclusão, uma dicotomia que busca não somente excluir, mas também matar essa população minorizada.
5 – Quais são as suas impressões da 28ª Parada do Orgulho LGBT+ e como profissional da Psicologia, como você avalia o evento?
Foi a primeira vez em que participei da Parada e confesso que as minhas impressões foram as melhores possíveis. Percebo que muito do que se cria das impressões negativas é fruto de uma ideia repleta de estigmas. Uma impressão e visão LGBTfóbica, racista, capacitista. O evento representou um momento de encontro e trocas, mas principalmente um ato político que demarca e reforça uma história de luta, uma história de resistência. E para mim, como Psicólogo, foi de imenso prazer e orgulho reafirmar o compromisso da Psicologia enquanto ciência. Uma ciência que está a serviço da democracia, uma ciência que está a serviço da despatologização das identidades homossexuais e de gênero. Não só por ser parte da comunidade, mas, por estar nos dois lados, de ter o orgulho de dizer que essa é a minha profissão e ela sim está a serviço da sociedade e que ela sempre estará na luta pelos direitos da comunidade LGBT+.
E reforço que a Psicologia, os(as) profissionais de Psicologia são muito importantes para o desenvolvimento da qualidade de vida, das pessoas que compõem a comunidade LGBT+. O CFP, por exemplo, tem um papel fundamental de direcionar a atuação dos Psicólogos, na prestação de serviços à essa comunidade e compreender o que está sendo construído, a forma como está sendo construída essa atuação, seus diálogos, e em como atuar nessas frentes. Isso tudo é muito rico e valioso, entendemos que a Psicologia tem muito a desenvolver como qualquer outra ciência viva. E estamos com uma atenção crítica à nossa atuação, ao que está acontecendo, às vivências da sociedade.
Assessoria de Comunicação do CRP09