Somente no mês de junho, dois casos graves divulgados pela imprensa em Goiás mostraram condutores que tiveram ataques de fúria depois de discussões no trânsito. Em Ouro Verde de Goiás, um motorista espancou um idoso de 70 anos durante um desentendimento e atingiu a vítima com vários golpes de capacete. A agressão foi registrada por câmeras de monitoramento. Em outro caso, em Aparecida de Goiânia, um homem e uma mulher foram agredidos por um motociclista. Um vídeo, gravado por pessoas que passavam pelo local, mostra o motorista visivelmente descontrolado e atingindo as vítimas de forma muito violenta com um capacete e um pedaço de madeira.
A psicóloga Ana Flávia Vieira de Mattos, presidente do Conselho Regional de Psicologia de Goiás, avalia que os dois casos citados demonstram a gravidade da violência no trânsito e os riscos que as pessoas correm ao se envolver em discussões em seus percursos diários. Explica que a agressividade no trânsito é um fenômeno complexo que envolve múltiplos fatores, dentre os quais pode-se destacar o estresse, a impulsividade e o uso de substâncias, como álcool e drogas, que exacerbam comportamentos agressivos. Além disso, “A rotina agitada das pessoas que vivem nas grandes cidades colabora para agravar sintomas de estresse que podem resultar em comportamentos agressivos no trânsito”, comentou.
Segundo Ana Flávia, o grande número de veículos nas ruas, os congestionamentos constantes e a pressa para chegar aos destinos contribuem para intensificar uma competitividade acirrada, causando acidentes, desentendimentos e brigas entre motoristas. “Há uma relação direta entre uma vida estressante, a rotina agitada das cidades e a violência no trânsito. Essa vida atribulada pode levar as pessoas a agirem de maneira mais impulsiva, irritada e impaciente, resultando em comportamentos agressivos no trânsito”, destacou.
A psicóloga afirma que as agressões também revelam que parte dos motoristas não dá a devida importância para os cuidados com a saúde mental e não tem o devido preparo para lidar com situações de estresse no trânsito. “São vários fatores somados que criam um ambiente propício para a ocorrência destes comportamentos. É uma combinação de estresse, impaciência, pressa e competição no trânsito que desencadeia comportamentos perigosos. Isso pode resultar em agressões graves e até mesmo em morte. Não é raro acompanharmos notícias referentes a motoristas que usaram armas de fogo para tirar a vida de outra pessoa em razão de brigas no trânsito”, pontuou. Ana Flávia acrescenta que a agressividade reflete um adoecimento mental dos condutores, que precisam ser acompanhados por psicólogos competentes.
A presidente do Conselho Regional de Psicologia de Goiás enfatiza que o ataque de fúria é consequência de outras atitudes impulsivas, como ultrapassagens arriscadas, desrespeito às regras de trânsito e excesso de velocidade. “Infelizmente as estatísticas estão mostrando que muitas vidas estão sendo perdidas para um trânsito violento”, salientou.
Ajuda profissional
Os psicólogos desempenham um papel crucial na prevenção da violência no trânsito, especialmente aqueles envolvidos na avaliação para obtenção da CNH. A avaliação psicológica, realizada dentro do rigor técnico e ético, é fundamental para identificar traços de personalidade que possam indicar uma propensão a comportamentos agressivos, garantindo que os novos condutores possuam o equilíbrio emocional necessário para dirigir com segurança. Neste ponto, é importante destacar que os psicólogos também desenvolvem e implementam programas de educação que ensinam técnicas de gerenciamento de estresse e resolução de conflitos, promovendo comportamentos mais seguros e responsáveis no trânsito, contribuindo para que o condutor mantenha esse estado equilibrado necessário a um trânsito seguro.
Ana Flávia Mattos alerta para a necessidade de acompanhamento psicológico para motoristas que se envolvem em brigas no trânsito. “É muito importante que o motorista entenda que o trânsito é uma extensão de sua vida, assim o acompanhamento psicológico, ao possibilitar que essa pessoa lide melhor com sua ansiedade e agressividade, contribuirá numa melhoria de qualidade de vida como um todo e não somente no trânsito”, pontua.
A psicóloga acredita que não exista uma solução mágica, pronta, para uma situação tão complexa. “Precisamos conscientizar sobre a importância da saúde mental, praticar a empatia no trânsito, manter a calma e a paciência, além de respeitar as regras e leis de trânsito e promover alternativas de transporte que reduzam o estresse e a pressa”, destaca. A psicóloga também cita a importância de investimentos pelo poder público em infraestrutura e políticas públicas que melhorem a segurança viária e a mobilidade urbana, aspectos que considera fundamentais para reduzir a violência no trânsito.
Assessoria de Comunicação do CRP09