O Dia Mundial de Luta contra a Aids, em 1º de dezembro, é uma importante data para se refletir sobre a doença, a transmissão do vírus HIV e o tratamento dos pacientes que têm o vírus. A Psicologia é uma importante aliada nesse processo. Prova disso é o trabalho desenvolvido pelo Setor de Adesão do Hospital de Doenças Tropicais de Goiás (HDT).
Há dez anos, a equipe coordenada pela psicóloga Maria do Rosário Conceição Rocha conseguiu importantes conquistas, como a redução significativa de transmissão do vírus HIV da gestante para o bebê. Ela é a criadora deste Setor de Adesão e há 20 anos trabalha com pessoas portadoras do HIV.
Devido ao seu trabalho de vanguarda e a ampla experiência no assunto, o Conselho Regional de Psicologia 9ª Região Goiás/Tocantins convidou a psicóloga para uma entrevista exclusiva ao site do CRP-09. Confira:
Qual a importância da atuação do psicólogo no tratamento de um portador do vírus HIV?
Nossa atuação é de fundamental importância, pois esta patologia mobiliza muito o paciente, que durante o tratamento enfrenta muitas vicissitudes que podem levá-lo a uma má adesão ao tratamento colocando sua vida em risco.
Qual a principal dificuldade hoje encontrada por um portador do vírus HIV que precisa da Rede Pública de Saúde para se tratar?
Como todos pacientes (SIC), a rede pública de saúde está deficitária. Mas para o paciente de HIV/ Aids a situação é pior, pois seu tratamento é altamente especializado e a rede não está preparada para atendê-lo de forma adequada.
Quais os avanços que tivemos no tratamento da Aids?
Do ponto de vista médico, os avanços são muitos, aumentando cada vez mais a sobrevida do paciente. No entanto, do ponto de vista psicossocial temos muito que avançar. O maior problema das pessoas que vivem e convivem com o HIV é o preconceito.
Ainda há preconceito contra os portadores de HIV? Como deve ser a atuação do psicólogo diante de uma situação como essa?
O psicólogo precisa ter conhecimento amplo sobre a doença, possuir condições de acolher e tratar todas as situações apresentadas pelos pacientes, ser criativo e estar sempre preparado para atender as mais diversas situações, desde o uso de drogas, abusos sexuais, até as mais comuns como infidelidade conjugal e sexo precoce na fase da adolescência.
O Setor de Adesão do Hospital de Doenças Tropicais (HDT) foi criado há cerca de 10 anos. Como é o trabalho desenvolvido nesse setor? Em que essa atuação já contribuiu para os portadores do HIV?
Nestes dez anos de atuação do nosso serviço o balanço é positivo. Hoje temos mais de dois mil pacientes cadastrados e que recebem o apoio da nossa equipe, que conta com quatro psicólogas e eu na coordenação, além de uma assistente social. Minha equipe é muito comprometida e bem preparada tecnicamente. Para se ter uma ideia, nós temos um programa de gestante que reduziu a quase zero a transmissão materno fetal do HIV em nosso estado. Isto tem um impacto muito grande na vida do nosso paciente e um significado enorme para o futuro destas crianças que nascem livres da Aids. Este trabalho é muitas vezes árduo e é enfrentado todos os dias pela equipe da adesão com muita competência.