Entrevista - Psicóloga está a frente da Educação Infantil em Palmas (TO)

Publicado em 13/12/2011 às 12h52 | Atualizado em 13/12/2011 às 12h52

  
A presença do profissional da Psicologia nas escolas, inclusive na gestão, fortalece o desenvolvimento da educação, principalmente das crianças. Prova disso é a atuação da psicóloga Judite Dall’Agnol, que hoje é a Diretora de Educação Infantil da Rede Pública de Ensino de Palmas (TO). Em entrevista ao CRP-09, ela conta como está a Educação Infantil na capital do Tocantins, as políticas públicas de atendimento à infância e a perspectiva da Psicologia nessa primeira fase da educação. Confira:

Como é o atendimento à criança na Educação Infantil em Palmas?

Hoje temos na rede pública municipal o que consideramos um atendimento com avanços positivos e de referência, quando avaliamos o cenário nacional e as proposições no que se diz respeito às políticas públicas que vêm sendo traçadas pelo Ministério da Educação. Em 2005, a Prefeitura Municipal extingue a nomenclatura “creche” e passa a conceber os CMEIs (Centros Municipais de Educação Infantil) - espaços educativos, com o olhar sobre o desenvolvimento integral da criança, que compreendem os aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Para garantir este atendimento de qualidade educacional, cada um dos CMEIs possui uma Equipe Diretiva composta pelo Diretor, Supervisor Pedagógico, Orientador Educacional, Secretário Geral, Coordenador Financeiro e Coordenador de Apoio. A unidade educacional passa a ter recursos descentralizados, o que torna a comunidade escolar e comunitária responsável pelas questões pedagógicas, e também pelas decisões das dimensões físicas, financeiras e jurídicas, vivendo um processo participativo e democrático. O atendimento em sala de atividades é feito com professores regentes (formação mínima magistério), com determinado número de crianças por professor, conforme faixa etária da turma (Berçário I e II, respectivamente, 4 meses a 1 anos e 1 a 2 anos = 8 crianças por professor; Maternal I e II, 2 a 3 anos e 3 a 4 anos = 15 por professor; e Primeiro e Segundo Períodos, 4 a 5 anos e 5 a 6 anos = 25 por professor) Com este formato amplia-se também o atendimento às crianças com necessidades educativas especiais. Assim, é possível perceber que, com essa dinâmica de atendimento, a sociedade começa a se apropriar dos espaços públicos educacionais com maior confiança e segurança, as famílias sentem que é um espaço com melhor capacidade para atender seus filhos.

Quando se fala de atendimento pedagógico e inclusivo, como acontece essa organização nos CMEIs?

Cuidar e educar crianças é assunto sério. É preciso que esteja bem claro o sentido do Educar e Cuidar, desde o momento em que a família procura a instituição. O atendimento deve ter uma concepção de educação integral, com fatores indissociáveis, no sentido de promoção da qualidade das ações com as crianças nos CMEIs, que se efetiva a partir de quatro meses a cinco anos e onze meses. Quando falamos em educação integral estamos colocando em pauta a integração dos aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível. O assunto requer dedicação e compromisso com estudos sobre o desenvolvimento da criança e pesquisas para que todas as crianças estejam incluídas, numa perspectiva de educar, cuidar, brincar e incluir. Pensar acerca de educação integral temos que refletir sobre Sistema de Educação Integral, e não apenas Sistema de Ensino.

Como os espaços educacionais têm organizado esta ação integral?

No contexto sócio-histórico, onde são reveladas as necessidades de um trabalho participativo, envolvendo um trabalho multidisciplinar, o que possibilita à criança, aos profissionais e à família uma perspectiva de qualidade de vida, que pode ser amplamente estendida. Portanto, a SEMED, por meio da Diretoria da Educação Infantil, começa a organizar grupos de estudos com a finalidade de elaborar documentos para nortear os trabalhos nas unidades educacionais; são convidados profissionais, tais como pedagogos, psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, nutricionais, fisioterapeuta, arquitetos, profissionais interessados em elaborar materiais que possam facilitar a rotina e a organização da instituição. São efetivamente criados momentos de estudos, debates e elaboração sobre um projeto piloto: Projeto Educação Precoce, a construção dos Referências Curriculares da Educação Infantil, Diretrizes Municipais da Educação Infantil, Material de Educação Inclusiva da Educação Infantil, o Manual de Boas Práticas de Manipulação de Alimentos, as Recomendações dos Padrões Mínimos de Infraestrutura. Esses momentos propiciaram a todos os envolvidos elaborar documentos norteadores das ações dos profissionais atuantes na Educação Infantil e do Ensino Fundamental, a partir das vivências, conhecimentos e constantes pesquisas sobre este primeiro segmento (e alicerce) da Educação Básica na concepção de renomados autores como Piaget, Vigotski, Emília Ferreiro, Emília Cipriano, dentre outros.

Quando iniciar a educação precoce?

A Educação Precoce deve ser iniciada a partir do momento que a criança for diagnosticada como bebê portador de atraso no desenvolvimento, onde serão estimulados as percepções sensoriais, os movimentos normais, o rolar, o sentar, o engatinhar, a comunicação, a socialização e a cognição. O espaço infantil deve ter grande responsabilidade na formação das crianças, elaborando projetos que envolvam atividades da vida diária, afetividade e ludicidade, adotando estratégias que motivem a criança a realizar movimentos e comunicação. Uma vez detectado qualquer distúrbio ou defasagem, a equipe de profissionais da instituição ou da rede educacional pode intervir no processo, favorecendo o desenvolvimento e a aplicabilidade, contribuindo para a melhoria da qualidade de atendimento prestado à criança. Se a criança inicia sua educação por meio de um Programa de Educação Precoce/ Estimulação Precoce, os pais e profissionais que atuam nesse programa tomam desde cedo consciência da importância de seu papel como principais agentes de integração e elementos indispensáveis de ligação entre a criança e a comunidade escolar, o que facilita uma qualidade de vida da criança.

Como está a formação dos profissionais da Educação?

A formação continuada do professor em serviço que atua na Educação Infantil propicia resultados positivos no desenvolvimento da criança. Pois conhecendo as etapas do desenvolvimento, as suas necessidades e detectando precocemente possíveis deficiências, as dificuldades podem ser sanadas com orientações de profissionais específicos a cada especificidade. Com toda essa dinâmica, percebemos que é necessário abrir momentos de estudos de casos, discutir a formação dos profissionais da educação, uma vez que encontramos muitos desafios. Em 2006, pensou-se em um projeto piloto sobre a educação precoce, tendo em vista o surgimento de desafios quanto à formação dos profissionais, compromissos e perspectivas, pesquisa, observação, avaliação e intervenção. São construídos então os Grupos de Trabalhos (GTs), para se discutir com os profissionais envolvidos, como garantir a eficácia e a excelência no atendimento.

Em relação à atuação do Psicólogo Escolar, quando e como entra o trabalho desse profissional?

A partir de uma concepção da Psicologia Escolar/Educacional vinculada à perspectiva sócio-histórico-cultural e da revisão da produção científica na área, apresento um amplo leque de possibilidades de atuação do psicólogo no contexto escolar:

Grupos de trabalhos - A contribuição e a intervenção dos multiprofissionais;
- A Psicologia nos espaços educacionais como área de pesquisa, estudos e discussões;
- Práticas de prevenção de possíveis dificuldades e fomentar as potencialidades;
- Momentos de escuta sensível às diversas situações vivenciadas na instituição.

Como atuar de uma forma comprometida com a realização da Avaliação Psicológica?

Este é o ano da Avaliação Psicológica e no âmbito nacional temos propostas que estão sendo discutidas sobre o processo de desenvolvimento da criança e a avaliação ASQ 3 (Ages e Stages Questionnaires), na Educação Infantil, iniciada no Rio de Janeiro e que tem deixado muitos militantes da Educação Infantil preocupados com os rumos que se pretende levar. Cabe aos psicólogos, neste momento, se manifestarem também. Pois a proposta é de aplicar uma avaliação americana em que frisam que ’para responder ao ASQ-3, o informante não precisa ter qualquer formação específica e deve simplesmente conhecer muito bem a criança avaliada. Tendo observado com clareza as habilidades já adquiridas pela criança, o informante pode gastar uma média de 20 minutos para o preenchimento completo de um questionário’.

Para que servem os resultados? Como e por quem são analisados?

Acreditamos na importância da avaliação desde que tenha em mira objetivos bem delineados e monitoramento contínuo em termos de estratégias de ação que incidam na melhoria do desenvolvimento da criança, atenuando dificuldades, melhorando posturas, e em hipótese alguma podemos desrespeitar a criança e esquecer quais são os objetivos da Educação Infantil. A avaliação não consiste no simples registro das habilidades adquiridas, deve visar a um alvo: o processo de desenvolvimento da criança. Ou seja, os caminhos percorridos para a aquisição de tais habilidades e respeito às limitações. Hoje se trabalha muito o processo da inclusão. A Educação Infantil tem como missão a tríade: ’cuidar, educar e incluir’. Daí a necessidade da atuação de equipes multiprofissionais e, com certeza, o psicólogo escolar deve fazer parte desta consulta.

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