A Campanha Novembro Azul, empenhada pela Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG), visa conscientizar os homens sobre a importância de cuidar da saúde a população sobre o câncer de próstata, que é o de maior incidência nos homens.
O tema desta edição é “Tenha coragem de ter saúde”. De acordo com os idealizadores da campanha, a ideia é reforçar nos homens do grupo alvo da campanha, aqueles que já passaram dos 40 anos, a desconstrução do preconceito que muitos ainda nutrem em relação ao exame de toque retal.
Para falar mais sobre esse assunto, o CRP-09 entrevistou a Chefe do Serviço de Psicologia da ACCG, Edirlene Fernandes Alves, que atende os pacientes da Urologia e do Aparelho Digestivo.
Confira:
De que forma a campanha Novembro Azul pode contribuir efetivamente para os tratamentos de câncer?
A contribuição dessas campanhas é o trabalho de prevenção, pois considero que o estímulo à prevenção à saúde em nosso país é pouco, o que mais acontece é na forma terciária de tratamento. A campanha consegue atingir um público com menor esclarecimento, que às vezes não tem tanto acesso ao atendimento privado ou público de saúde. Essas campanhas (Outubro Rosa e Novembro Azul) atingem a massa quando, por exemplo, iluminam o Congresso Nacional de azul. Quando fazem esse tipo de ação em campo de futebol e em pontos turísticos, atinge o campo visual dos homens, chamando a atenção para que eles se lembrem de fazer exames preventivos, procurar a saúde pública, ou quem tiver, a privada, e fazer exames preventivos.
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a taxa de incidência do câncer de próstata é maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento. Esse dado pode estar relacionado a uma maior conscientização e procura dos serviços de Saúde?
Pode ser que eles trabalhem mais essa questão da prevenção. Então, conseguem realizar mais diagnósticos e alcançar mais esse público através do esclarecimento. Nos países desenvolvidos há mais esclarecimentos, menos analfabetos e semi-analfabetos. E isso, querendo ou não, acaba influenciando. Isso é uma variável importante, não significa que é isso e pronto. Mas eu acredito que contribui sim. Porque ainda percebo através dos pacientes que há um estigma ruim ir ao médico. Muitos têm dificuldade de ser tocado, de fazer exame, de se expor. Ou se está com algum sintoma, muitas vezes fica calado por vergonha. Eu penso que essa pesquisa do INCA pode ter sido baseada no fato dos países desenvolvidos terem um maior nível de esclarecimento cultural, escolaridade e por também eles incentivarem as formas de prevenção.
Qual a maior preocupação dos profissionais da Saúde em relação ao câncer de próstata?
No caso do câncer de próstata, o tratamento tem uma série de efeitos colaterais. Então, a equipe da urologia trabalha buscando desmistificar esses efeitos para que pacientes homens adiram ao tratamento. Eu falo pacientes homens porque são maioria, mas têm pacientes mulheres aqui na Urologia. As equipes dos médicos específicos ou da enfermagem encaminham os pacientes para o Setor de Psicologia. Os profissionais buscam que os pacientes sejam informados ou que seja feito esse trabalho educativo para que eles consigam enfrentar o tratamento.
Durante o tratamento do câncer, qual a maior preocupação dos profissionais da Saúde com o paciente?
Na verdade, o Novembro Azul fala não só do câncer de próstata, mas das doenças do sexo masculino em geral. Como o câncer de próstata tem a maior incidência, a saúde investe na prevenção, com o toque retal, o tão falado toque retal que tem um estigma enorme entre os homens. Mas fala-se das doenças no homem em geral, não só doenças físicas, mas das emocionais também, como a depressão, que compromete o homem. No Hospital Araújo Jorge, os médicos nos encaminham os pacientes, até mesmo antes do tratamento, também quando são outros tipos de câncer. Por exemplo, o câncer de pênis ou o câncer de testículo. Muitos não querem aderir ao tratamento. Em alguns casos é preciso amputar parcialmente e até totalmente o órgão. No caso do âncer de testículo, o homem fica impotente sexualmente. Da mesma forma que a próstata, a prostatectomia radical, quando se retira a próstata, ou mesmo quando se faz uma radioterapia, pode haver comprometimento sexual. Não são todos os casos encaminhados para a Psicologia, só os selecionados pelos médicos. Os homens, muitas vezes, colocam em primeiro lugar o sexo do que a vida. Mas tem também o homem que coloca em primeiro lugar o trabalho do que o sexo, porque quando ele fica impedido de trabalhar, de executar as suas atividades laborais, ele fica muito angustiado, deprimido. Quando os médicos encaminham é no sentido de que eles possam receber esse apoio, essas orientações. Não só o paciente, mas a sua companheira, seja a namorada, ou a sua esposa, para que possa ajudar nesse momento. Dar apoio para que ele possa aceitar o tratamento.
O profissional da Psicologia acompanha também os familiares cuidadores dessa paciente?
Muitas das vezes, no primeiro atendimento, recebemos o paciente e o acompanhante. Às vezes é a filha, a esposa, a mãe, enfim, e depois eu atendo ele sozinho também. Conforme o caso, também atendo junto. Faço 20 minutos os dois para ver como que está. Faço as orientações de tratamento para família também, pois este é o grande apoio.
Os homens ainda têm dificuldades em falar sobre câncer de próstata? Como a Psicologia trata essa questão com os pacientes?
Têm. A palavra câncer é um estigma, é uma crença. Uma das primeiras coisas que a gente faz na entrevista com o paciente é avaliar o que ele acha e o que ele sabe do diagnóstico. Porque muitas vezes ele fala que tem um caroço, uma ferida, um nódulo. Ele não consegue falar câncer e temos que respeitar. Talvez ele tenha uma história muito ruim com a doença. Mas quando eles falam a palavra câncer, eu busco avaliar. O que é o câncer? Como é a vivência deles com o câncer? Se teve vitórias ou teve perdas, ou conhece alguém que fez tratamento. Existe sim esse estigma ainda de que o câncer é o fim da linha, infelizmente. Então, a Psicologia e também as outras equipes multidisciplinares precisam fazer esse trabalho educativo, de orientar a família e os pacientes que o câncer é sim uma doença difícil, de tratamento longo, porém, muitos pacientes têm cura. Depende da época e de como é descoberto aquele tumor. Cada caso é um caso. Não pode estar achando que não vai ter cura, que não vai ter tratamento.