Nesta segunda-feira, dia 29 de agosto, celebramos o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. A data faz referência ao 1º Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), realizado em 1996, e propõe a discussão de políticas públicas de combate à lesbofobia, além de ações para ampliar a visibilidade da comunidade lésbica no Brasil. Esta data é importante para dar voz às pessoas lésbicas também dentro da própria comunidade LGBTQIA+, onde a reprodução de comportamentos machistas e misóginos ainda persiste.
De acordo com a psicóloga Maria Luiza Bitencourt Silva Couto (CRP 09/15340), que se identifica como mulher lésbica, as mulheres lésbicas estão em posição desfavorecida em diversos aspectos da sociedade, e até mesmo na luta por direitos sexuais. “Na década de 1970, o movimento gay ganhou visibilidade e, apesar de mulheres lésbicas também estarem integradas nesta luta, foi somente em 1993 que o termo ‘lésbicas’ foi incluído no movimento brasileiro. A misoginia e o machismo, para além de outras violências, afeta não só a população heterossexual, mas também a população homoafetiva. A visibilidade lésbica é, portanto, uma luta que pauta não só os direitos sexuais, mas a igualdade de gênero e desconstrução dos papéis e dispositivos de gênero”, analisa Maria Luiza.
A psicóloga reforça que a luta de diversas minorias e segmentos da população brasileira por mais visibilidade tem impactos importantes na vida dessas pessoas. A lesbofobia estrutural que está tão enraizada na sociedade brasileira tem consequências diretas na saúde mental de mulheres que sofrem preconceito diariamente. Por isso, dar voz e visibilidade a elas é fundamental para que se possa promover o resgate da identidade e do orgulho de pessoas que se identificam como lésbicas.
“Se uma mulher que gosta de outras mulheres se percebe sozinha, oprimida por uma cultura que a lê como desviante, como imoral, criminosa ou pecadora, essa mulher, por óbvio - assim como qualquer um em seu lugar - se esconde, passa a ver com maus olhos a própria sexualidade - já que esta é a condição que desperta nos outros o ódio e, nela, o sofrimento pela violência e exclusão. Se essa mulher visse que outras mulheres desejam de forma parecida com ela, que tais mulheres são bem-sucedidas, que tais mulheres podem ser amadas pela família, que podem ter filhos, que podem participar de religiões, que podem ser gente como outros, essa mulher percebe que sua lesbianidade é, senão, só mais uma de suas características pessoais”, explica Maria Luiza.
Os dados que ajudam a formar o cenário social em que as mulheres lésbicas estão inseridas atualmente no Brasil são alarmantes. Segundo entidades defensoras de direitos humanos, a cada 16 horas ocorre uma morte por LGBTfobia no Brasil. Na população brasileira homoafetiva, 60% das pessoas que já passaram por alguma experiência de preconceito já tentaram suicídio. Além disso, 40% das mulheres lésbicas e bissexuais não revelam sua orientação sexual em consultas ginecológicas, por temerem algum tipo de reprimenda, preconceito ou assédio. A Psicologia precisa se comprometer a identificar e compreender as causas de todo o sofrimento mental imposto às mulheres lésbicas, e atuar em prol do resgaste e do fortalecimento da saúde mental desta população.
“De forma geral, a Psicologia enquanto área de estudo, formação e profissão, tem papel científico e social nos assuntos referentes às angústias, funcionamentos e interações humanas. É impossível compreender o indivíduo e a sociedade sem levar em conta seus marcadores interseccionais. Mais da metade da população brasileira é mulher. 10% da população brasileira é LGBTQIA+. Seria irresponsabilidade profissional ignorar tal parcela não menos significativa da população. Se é nosso objetivo cuidar dos sujeitos, compreendê-los, empoderá-los à própria existência, como poderia uma psicóloga se negar a estudar as barreiras sujeitos? Como poderia uma psicóloga, consciente de que tais violências matam (o corpo e a subjetividade) impor qualquer tratamento que não levasse essas influências estruturais em conta? É parte importante dos critérios para Psicologia Baseada em Evidências que o profissional saiba dos marcadores interseccionais e atue conforme estes, considerando suas dificuldades e possibilidades. A atuação para o fortalecimento da saúde mental dessa população é tarefa de todos, mas também é tarefa da Psicologia já que nós temos as ferramentas para desvelar as violências e transformá-las”, alerta Maria Luiza.