Wadson Arantes Gama
Viver é envelhecer a cada dia. A frase, longe de ser fatídica, traz embutida uma constatação básica: que envelhecer é um processo natural da vida. Mas será que nos lembramos mesmo disso? Como encaramos o processo de envelhecimento? A maneira como cuidamos dos idosos é a ideal? Em uma sociedade imagética, focada no ideal de juventude, ultrapassar a barreira dos 60 anos muitas vezes é sinônimo de preconceito e supressão de direitos básicos, como saúde, moradia e acolhimento familiar. É isso o que queremos para nosso futuro?
Mudar este quadro não deve ser encarado apenas como obrigação de governo, mas como bandeira de cada um de nós. Não é apenas o nosso futuro que está em jogo, mas o bem-estar das pessoas que amamos e que convivem conosco. Constantemente vemos nos noticiários notícias de maus-tratos a idosos, espancamentos, abandono. Até mesmo o acesso à saúde é mais complicado para eles, que são vistos pelos planos de saúde como meras mercadorias descartáveis.
Só que garantir os direitos básicos dos idosos não basta. O idoso - como bem lembraram em outro contexto os Titãs - não quer só comida, quer também diversão e arte. Quer integração. E este é hoje um dos principais desafios: ampliar a participação dos idosos nos espaços comunitários, possibilitando a convivência e a interação com os mais jovens. Neste sentido, o Estatuto do Idoso, sancionado em outubro de 2003, trouxe alguns avanços. Entre eles descontos de 50% em atividades de cultura e lazer para os maiores de 60 anos e a gratuidade nos transportes coletivos para maiores de 65 anos.
Sabemos, contudo, que todos esses esforços são pequenos se a sociedade não encarar o idoso como parte integrante da comunidade. A valorização do idoso passa pela participação deles em cursos profissionalizantes e requalificação profissional, universidades, atividades educativas, grupos de discussão, teatro e até mesmo eventos esportivos - por que não? Afinal de contas, é preciso que não se confunda energia vital com eterna juventude. Uma senhora com 90 anos pode ter mais energia vital do que uma adolescente que está deprimida e não encontra um sentido para a vida.
Há treze anos trabalho com mulheres idosas, por meio da companhia de teatro Senhoras do Cerrado, e aprendi muito com a história de vida delas. São pessoas fortes que lutaram contra as adversidades e, como o mesmo entusiasmo, continuam a luta diária. Nesse convívio percebi que não podemos tratá-las como panos velhos, mas como pessoas sábias, lutadoras e aprendizes que sempre terão muito a contribuir com a sociedade.
O bem-estar dos idosos é o principal desafio do Movimento Plural-Idades, que o Conselho Regional de Psicologia (CRP-09) lança hoje (16 de junho), no Teatro InAcabado. O movimento tenta colocar luz mais uma vez às dificuldades enfrentadas pelos idosos, especialmente no âmbito das relações sociais. Lembrando que logo um terço da população brasileira vai ser senescente, abramos nossos olhos e nos preparemos para o futuro que já chegou.