Afim de suprir uma demanda em pesquisas sobre s Síndrome de Down, a pesquisa elaborada durante um mestrado motivou o aluno e psicólogo Iran Johnathan Silva Oliveira e a professora da PUC Goiás Ilma A. Goulart de Souza Britto a escreverem um livro sobre o assunto. A obra “Síndrome de Down: modificando comportamentos” foi lançado no dia 9 de setembro, em Salvador, durante o XX Encontro Brasileiro de Psicologia e Medicina Comportamental e I Encontro Sul-Americano de Análise do Comportamento.
O Conselho Regional de Psicologia 9ª Região Goiás/Tocantins (CRP-09) fez uma entrevista exclusiva com os autores. Eles falam dos desafios ao elaborar o livro e também sobre a importância em divulgar esse conhecimento para auxiliar o trabalho e ensino em Psicologia. Confira:
CRP-09: O livro "Síndrome de Down: modificando comportamentos" foi produzido a partir de um estudo acadêmico. Qual o questionamento que motivou a pesquisa?
Professora Ilma: Estudos com as aplicações dos princípios básicos de Análise do Comportamento dirigidos a pessoas que possuem diagnósticos médicos em nosso contexto são escassos. A pesquisa visou suprir parte dessa carência e, ao mesmo tempo, cumprir com os requisitos para a conclusão do mestrado em psicologia do primeiro autor. Além disso, a motivação dos autores na organização do livro foi a de apresentar a comunidade científica e profissional os resultados de uma investigação sobre os comportamentos-problema de um indivíduo diagnosticado com a Síndrome de Down em uma unidade de tratamento especializada.
Iran Oliveira: o fato do primeiro autor trabalhar em uma instituição especializada em deficientes intelectuais favoreceu e motivou a pesquisa. Há também uma escassez de pesquisas na área e este público carece de atenção privilegiada para que possamos proporcionar melhorias na qualidade tanto da aprendizagem destas pessoas que apresentam deficiência quanto da melhoria na qualidade de vida de seus familiares.
CRP-09: De que forma a publicação vai contribuir para a formação acadêmica de novos psicólogos e também de outros profissionais da Saúde?
Professora Ilma: Os desafios sociais e de saúde (e.g., trânsito, corrupção, terrorismo, dependência de substâncias, AIDS, doenças crônicas) estão embasadas em comportamento. E o comportamento como objeto de estudo iniciou-se muito tarde (século XX) na história das ciências. Os indivíduos que apresentam comportamentos-problema, isto é, déficits (e. g., a pessoa que não pronuncia corretamente as palavras, isolar-se do convívio social) ou excessos (e.g., agressão física aos pares, ataques de birra) comportamentais podem ser classificados de vários modos como, por exemplo, apresentando danos cerebrais, desordens emocionais, atípicos em relação ao desenvolvimento, autistas, depressivos, esquizofrênicos, fóbicos, maníacos, mentalmente retardados, psicopatas, psicóticos, severamente perturbados ou, ainda podem não ter diagnóstico formal algum. De forma semelhante, indivíduos rotulados como agressivos, ansiosos, dependentes, desmotivados, egoístas, orgulhosos, passivos, preguiçosos, tímidos, violentos, entre outros, também são indivíduos que apresentam déficits ou excessos comportamentais. Como se nota, é prática comum aos profissionais de saúde e pessoas do senso comum rotular ações humanas, o que não as explicam.
CRP-09: A pesquisa foi realizada em uma instituição de reabilitação e inclusão para pessoas com necessidades especiais. Como essas pessoas estão sendo tratadas? Isso mudou nos últimos tempos?
Professora Ilma: O ponto de vista defendido na obra é o de as pessoas não se engajam em comportamentos desorganizados ou comportamentos altamente perturbadores porque apresentam danos cerebrais, por exemplo. Em vez disso, as pessoas adotam padrões de comportamento que funcionaram e continuam a funcionar para elas de alguma forma. Há função em comportar-se de determinado modo e a obra apresenta uma avaliação funcional numa tentativa de entender a função dos comportamentos-problemas manifestados pelas pessoas. O modelo tradicional de tratamento oferecido pelas instituições baseia-se em outros tipos de explicações para explicar a complexidade das ações humanas e oferecem outros tipo de explicações em outros domínios, que o comportamento como objeto de estudo por si mesmo.
Iran Oliveira: Cada ano eu avalio que tem sido melhor que outro, pois os profissionais que lidam com estas pessoas na atualidade já podem encontrar especializações e cursos de formação na área, sempre em busca de se qualificarem para obterem melhores resultados. Por outro lado, as pessoas que frequentam estas instituições têm sido contempladas com alguns programas de inclusão social. Hoje em dia nós temos pessoas com Síndrome de Down trabalhando em restaurantes como garçons, em programas televisivos como repórter, temos músicos e etc. Estamos caminhando a passos lentos para o sucesso, porém ainda há muito o que pesquisar sobre os processos de aprendizagem das pessoas com deficiência.
CRP-09: A obra foi lançada num evento internacional. Como ela foi discutida e recebida na ocasião?
Professora Ilma: Bastante reforço à iniciativa dos autores. Se a aceitação da obra for avaliadas pelas vendas no evento em Salvador, pode-se afirmar que será muito bem recebida pelas pessoas interessadas em entender o porque das pessoas se comportarem do modo como fazem, independente de possuírem uma etiologia médica.
